quarta-feira, 23 de junho de 2010

Uma divagação...

Entre alguns autores que li por ai, vi homens que diziam não serem suicidas por não serem dogmáticos o suficiente para crerem que a morte seria uma solução. Mas, em contrapartida, este mesmo autor dizia que era depressivo, uma hiena filosofante. Emil Cioran é de quem falo. Ele como bom cético, mas não bom o suficiente, apontou em partes para idéias boas. E estarei sendo paradoxal em, também dizer, que errou ou que foi ruim, corrijo-me: ele não foi bom, nem mau, apenas foi. Vejamos: ao dizer que não podia acreditar profundamente em nada, nem na descrença, ele muito bem que fugiu de um suicídio... mas caiu num viver depressivo, dai sai a hiena filosofante, come carniça, mas ri, mas na realidade não ri. Ou seja, um ser que é mascarado para vestir-se em situações. A hiena ri, uiva, é silenciosa. Mas... e por dentro o que passa? Odium fati, essa é a saída anti-nietzscheana de Cioran. Aceitar a vida, o niilismo, para Cioran, não é mais descobrir o amor fati pelas coisas e pela vida, mas a vida, desse modo aparentemente caótico e sem explicações, merece o ódio por tudo isso, por justamente não ter explicação. Daí, como sempre, um castelo de cartas desmoronando ou como em efeito dominó, disso acaba na depressão, na tristeza profunda.
Ele teve uma escolha, nós precisamos sempre escolher por qual ponto de vista iremos olhar para a vida. Somos corpos que vivem e adquirem experiência, podemos olhar para algo que nos remete a um passado, sofrer por isso porque aquilo nos remete a também todos males que passamos por isso, como que bem pode ser todas as coisas boas... O corpo é memorioso, disse Espinosa. Logo, em maior parte, podemos afirmar que o mais profundo é a pele, o cheiro...que o mais profundo é o olhar. E o pensar, supor talvez, o que ele - o olhar - significa, o que ele quer nos dizer: o olhar fixo que nos intimida, o que ele diz? o tímido que nos faz sentir donos da situação, por que és assim? Como o toque certeiro de uma mão sedenta, na pele nua de um corpo, como rio, permite ser adentrado? Tanto como o toque tímido e desprovido de experiência, coragem, mas que busca e nessa busca percorre... O que ocorre é experiência. Tantos outros sentidos, tantos outras infinitas possibilidades!
O corpo tem memória porque é através dele que experimentamos o mundo; podemos abstrair tudo no campo da mente - e o fazemos -, mas o que vale é tudo isso, já dito, sendo: o toque - como os dos lábios, das mãos... -, o olhar - que pune ou que é cumplice do amor -, o cheiro - que nos anestesia, nos deixa famintos, inquietos, hiperativos! -, o sabor - por que não falar de novo do beijo? Como também de tantos outros sabores -, a palavra - som que pode ser belo, que pode ser vil, que pode ser sincero - e todos outros sons que sem eles o que são as cores? - Então, em suma, somos só sentidos e abstração? Só? Se isso não for o bastante: Talvez. Quem pode afirmar ou negar isso?

O mais válido nisso tudo é justamente isso tudo, a experiência. Todas ações e reações. Toda energia e substância. Todas coisas em unicidade, dualidade, que transcorrem até o infinito. O negativo existe, assim como há também um positivo. Não sei se há equilíbrio (espero que haja), mas quem dosa as coisas somos nós.

Os fatos, em si mesmos, não possuem características algumas, se formos analisar bem. Nós depositamos o que achamos, o que parece nosso, também o que parece ser socialmente aceito, senso comum... Os fatos então são todo um conglomerado de características do mundo expressas numa parte só, ou seja, num fato. E fatos são conglomerados unindo-se uns aos outros, e explicando uns aos outros, como também negando uns aos outros.
Aonde parece que quero chegar com tudo isso? Pode parecer confuso, mas mesmo uma postura cética ainda tem fortes chances de fazer parte deste conglomerado que auto-afirma-se como cética. Logo, não vamos negá-la ou contradizê-la ou deixá-la de lado. Poxa, é um instrumento a ser utilizado, como tantas outras coisas. Não sobrepor nada a nada? Também não sei se isso é possível.
Mas nesse viver e aprender - pelos sentidos, pelas idéias, por tudo o mais -, temos chance de viver de formas incríveis: é só olhar para o mundo e ver tudo que o homem já foi capaz de fazer, tanto para o "bem" como para o "mal"(entre aspas para não entrar em nenhuma discussão ética-moral).
Nisso, o pessimismo pode me ser útil, esclarece e justifica minha dor e minha inanição, como o otimismo justificaria o "não-ligar" para os erros... Por isso Cioran, foi muito bom enquanto durou o meu casamento com sua idéias. Mas agora outorgo-me ideologicamente solteiro.

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