quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Exaltação

Essa exaltação me toma por completo. Renasço todos os dias quando nos reinos de Morpheus adentro e desperto, emergindo, no dia seguinte, do mar coletivo de todos nós. A cada dia uma lembrança boa, e vivo os momentos instáveis. Inspiro e expiro os bens e os males, como que numa compensação... Nessa jornada pessoal pela minha alma! Me exalto, sim. É extramente contagiante essa busca, que em sincronicidade, me faz me maravilhar com cada coisa nova, com cada coisa velha, com cada coisa descoberta... Com cada coisa entendida, conscientizada, sentida e transcendida.

anamnesis i

Aquilo que provoca estranheza, provoca julgamentos na mesma proporção. Tudo como modo de compensação do não-entender. O estranho - o estrangeiro - sempre é motivo de alarde. Pois só o que é "nosso" (com muitas aspas - o que é NOSSO?) nos trás calma, é comum, vulgar, estável... Ai que mora o risco, e fundamos nossas estruturas psíquicas nesse castelo de cartas. Tomemos cuidado com qualquer certeza e exacerbação do que é de si mesmo. O que está no fundo disso tudo? Se nem ao menos paraste para pensar isso é hora de rever muitas coisas.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

æ i

Tantas, tão únicas! Fico perplexo, embasbacado como criança que vislumbra-se com o novo. É assim: volto a ser mais novo do que já sou, viro moleque que se perde... nesses olhares, nesses cheiros - Quê cheiros! Essências tão raras, hipnóticas.
Me perco no olhar tímido, nas palavras soltas e despojadas, no roçar de corpos no ônibus lotado e em toda e qualquer minúcia que fogem aos conceitos. Quão ímpares e de subtil beleza. Cada qual inspira e incita em mim algo novo, sempre novo... Sempre tão distante!
Que tenham sido infelizes os homens e mulheres que acabaram com esses valores. De algo tão singelo, complexo et ad ultimum lascivo, id est: o flerte.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

TRY^D - THE FINAL REWIND




mankind
what is on our minds
are we running blind
what do we want to find
standing in these lines
waiting for a sign

rewind
will never turn back time
life is on the line
past is all behind

and I do
care as much as you
and try to make it through
what else can we do

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

persona[s] ii

Se você fosse somente metade da verdade que você foi, e assim também perdesse aquilo que foi mentira e me feriu, ainda teria você na mesma intensidade que antes. Mas de utopias e ilusões são feitas as paixões humanas, por detrás de cada beijo, cada olhar estava o mar de confusão e dilaceração de um futuro que nunca acontecerá, no passado que o presente só faria parte de todo o sempre.
Agora também sou metade de mentiras, parte de confusão, parte de desilusão. Enquanto não destruo essa armadura que já muito usei, ainda você estará cravada nesse aço inoxidável de memórias corpóreas, psíquicas...

Persona[s] i


Pela janela, lá fora,
Que beleza de máscaras
Uma alegoria de cores
De gestos e caprichos
Tão cheios de vida
Que transbordam
- para fora -.
[Quem suporta ter tudo isso dentro de si?]

E na expectativa
Afogam-se,
Sozinhos.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A pia.

Tropecei, cai em cima da pia e ela soltou da parede e espatifou no chão. Não que eu a usasse, já estava há muito tempo sem uma torneira, ela era porta-roupa-suja. Espatifou e machucou meu joelho. No chão começou a escorrer do cano uma água que devia estar a muito tempo lá dentro. Antiga e mal-cheirosa.
Tropecei, me machuquei, quebrei mais uma coisa nesse dia, rompi com as possibilidades de me imunizar das dores que podia deixar de sentir. Fiz um milagre às avessas deturpado pelo momento ruim... péssimo. Só sei que já é madrugada, estou machucado e com uma pia em estilhaços no meu banheiro. Ela estava inútil, agora é inútil.
Pela primeira vez no dia encontrei semelhança com algo. - Pia, ao menos você não sente. Irá pro lixo e assim acabou sua utilidade nesse mundo.
Nunca pensei sentir tamanha inveja de algo tão inútil, inanimado e ordinário.

Como se enterrar na merda... [ainda mais]

Quando não é mais necessário nenhum esforço, nenhuma habilidade sobre-humana, nenhuma atitude muito complexa, pois as coisas naturalmente estão acontecendo da pior forma possível, é fácil perceber o quão preocupante e instável está o momento. Eu gostaria de entender o porquê das coisas acontecerem sempre de uma maneira que mais parece uma piada de mal-gosto, aliás, quanto mais vivo mais vejo a vida como uma piada de mal-gosto. Com um senso de humor deturpado e torto, daqueles de pessoas sádicas... beirando à sociopatia.
Eu já, há muito, não mais escrevo, vomito! Ponho pra fora com voz afônica, embasbacada e ofegante, como daquelas pessoas que vomitaram durante minutos afinco, que fizeram deste trabalho o maior de suas vidas - se necessário, e se fosse possível, expelir as tripas pela garganta! - e perderam o fôlego, ficaram sem voz por forçarem demais ela, até arranhá-la mais que carro de professor chato em escola pública no período noturno. Eu já não tenho mais o prazer pueril em escrever, mas nem muito menos acho que adquiri alguma maturidade na escrita. Talvez adquiri mais extravagância, talvez estou cada dia mais próximo da secura de qualidade e sentimentos. Meu estado natural é anti-poético, anti-sentimental, frio, vazio ... e que perambula entre o escuro e a merda. Que prefere chafurdar-se em qualquer canto à grandes eventos...

...Já quando faço coisas belas, poéticas, VIVAS, decido mostrar ao mundo, como quem procura uma chance de redenção, como doente terminal que espera uma cura... Quem sabe! Ainda acho que tudo é possível, mas não é possível para todos.

domingo, 5 de setembro de 2010

Pelo meio. II

ENANTIODROMIADeveras não estou doente, adoeci. A diferença pode não parecer grande, mas é. Estar doente me remete muito a um estado que pode inclusive ser crônico e pleno... de doença! Adoecer é ser levado para um estado abaixo do normal por alguma intervenção (externa ou interna), mas sem vestir-se como doente, sem deixar-se ser levado por essa maré.
Das poucas coisas que ainda acho ter algum valor em Nietzsche é algo que ele falou (que como sempre não foi algo totalmente dele): quando estava são, ele falava da loucura, quando adoecia, falava da sanidade. É interessante, mas incompleto. Já bebi dessa fonte. Talvez os antigos como muitos orientais e até Aristóteles falaram melhor: o meio é o caminho, nenhum extremo, o meio. Falar das situações antagônicas só nos remete a um zigue-zague ideológico... E o que é pior uma ideologia de vida paradigmática. Isso que nos faz realmente adoecer, a doença não é um principio, para mim, mas uma demonstração da onde se encontra o problema possivelmente.
O meio pode ser muitas coisas, muitas vezes facilmente demonstráveis, outras nem tanto. Muitas vezes aparentemente simples, mas quando vemos é mais complexo, mais digno de estudo. Como por exemplo, quando opomos o amor ao ódio, intrinsecamente colocamos o ódio como vilão da história, quando podemos opor amor ao poder (JUNG). O meio é justamente quando sabemos que não somos mais os vilões ou os mocinhos, bons e maus, fortes e fracos, doentes e sãos. Tantos outros opostos. Mas que compartilhamos de uma mesma fonte e não seguir para o meio é dar a sorte nessa enantiodromia neurótica. Esta é verdadeira doença, não não estar mudado, mas querer permanecer nessa maré de caos e alagamento do ser por águas escuras.
A sociedade hoje e sempre, muito contribuiu para esse balançar entre a cruz e a cruz e a espada, sempre nos ditando quais eram os opostos, quais eram os vários caminhos, sem nunca nos consultar - é óbvio -, mas já é e já foi a hora de abrir os olhos. Não vale mais a pena fingir participar de um sistema que é só um pouco corrupto, que ainda tem possibilidade de mudanças! Só nos sobrou a nós mesmos, e o espaço que preenchemos na sociedade. Se continuarmos a compactuar com essas mentiras nosso espírito, nossa luta nessa vida, toda ação e energia despendida, terá sido inútil.
A cada dia renascemos, sim! A cada dia temos o novo e as lembranças que nos apontam para o eterno, para a fonte. Qual outra essência das essência poderia se chamar, senão, Deus? Qual o preconceito que temos por essa palavra que remete a Essa Grande Máxima? Só porque alguns milhares, ou mais, de homens sujaram este nome encrustando nele um passado de guerra e imposição? Então, se prefere, chame de Essência, de Ser, de Uno... qualquer coisa. Se não crê em nenhum essência, não deveria nem ter começa a ler.
Quando buscamos por respostas achamos mesmo, durante um bom tempo, que as encontrariamos fora de nós. Quando buscamos por setas e rumos, pelos vestígios de Deus (Essência, Ser, Uno...), achamos que será uma jornada fora de nós. Quando, ao fazermos parte dele, e sendo que nós mesmos somos os pontos mais próximos e corretos dessa grandeza, achamos que o caminho está lá fora. Mas, assim, muitos então dizem: o caminho é para dentro, etc. Torna-se um novo oposto, percebe? Ou lá fora, ou aqui dentro. E o meio termo qual é?

Opostos, opostos e mais opostos. Lutamos com o mal que está em nós como se isso fosse o caminho da cura, negamos toda maldade e toda lasciva, não damos permissão a nós mesmos a nenhuma taxa de erro. Sempre uma forma dura e engessada, asfixiante! Somos duros e queremos ser ponderáveis com o mundo. Invés de ajuda, damos veneno, uma pedra pesada para segurar num rio, um revolver ou palavras revoltadas, maldosas.

Eu não quero interferir tanto mais nesse meio em que convivo, vejo que meu silêncio (meu Meio) basta para que muitas conclusões já cheguem prontas e melhores do que eu poderia julgar. Quando nossa baixa auto-estima é mudada por uma alta auto-estima, muda a posição do ego. Antes - quando em baixa - nosso ego era gigante, dentro de nós mesmos queríamos ser reconhecidos pelo mundo, vistos como novos profetas, depois - quando em alta - nosso ego já foi muito machucado, mas ele tornou-se forte - forte? Fraco com cara feia, para botar medo - e agora se sente a semelhança de Deus. Quando se interfere numa causalidade, não percebemos, mas estamos colocando mais uma equação nessa conta já complicada, e podemos complicar ainda mais. Se não formos um número real, mas mais uma incógnita, faremos com que o dono dessa equação dure mais tempo para resolvê-la, talvez não, mas talvez sim!
O que quero dizer é que o silêncio, o meio e a necessidade em calar-se é tão necessário quanto gritar e discursar longos conjuntos retóricos (como esse, por que não?).
Privar-se de muito sacrificio pode ser privar muitos de muita dor. Não sabemos, mas enquanto ficamos nessa dança entre pontas de lança, um centro calmo pode estar nos esperando. E desse modo, só espero que não seja mais um ideal ilusório tudo isso. eneaENANTIODROMI

sábado, 4 de setembro de 2010

Pelo meio.

Entre uma tosse e outra, minha cabeça dói mais. Já é a última pastilha para tosse que chupo e o xarope acabou. Tanta coisa entalada que já saiu da garganta... que só pergunto, o que mais? Tiro a camiseta, não importa, posso estar doente, mas está calor também. Coriza, lenços de papéis, mais coriza, mais lenços de papéis. Exclamo uma reclamação atrás da outra, mais que saco!
Hoje me olhei no espelho, vi um cara meio acabado, meio doente, meio cheio de muitas vontades, cansado de tanto discurso... De tanto idealismo. Pra quê? Afinal, todas as idéias se tornam como minhas manchas na pele: lembranças do passado, marcadas para o tempo, mas que não são mais as mesmas. Há muito já deixaram de serem cicatrizes vivas que doiam, queimaduras do sol que ardiam, como as idéias!
Agora são muitos rostos que só são máscaras representando os diversos lados de uma mesma moeda suja que diz ter valor com a política entre os homens... Só pergunto: qual é o lastro teleológico por trás disso tudo? Um belo baile de máscaras ao longe, cheio de jogos e mais jogos de véis que cobrem os nossos olhos e sujam nossas idéias.
Do que adianta, por exemplo, de dez idéias, nove serem boas e verdadeiras, mas a décima - a conclusão - ser a armadilha que nos envenena? Qual sua capacidade de, ao saber dessa grande possibilidade, você se manter satisfeito, fiel e focado em qualquer caminho de fora? Não vale essa luta sisífica que todos nós sabemos levar a todos nós para o fracasso em viver.

Vivamos nossas vidas, de nosso melhor modo, com muito respeito, sem comparações... Sem tantas inutilidades da alma. Qual atitude mais grandiosa seria, se sei que muito não fazem, exercer meu papel ao meu modo ou me adaptar a esse mundo de mentiras?

Por hora, encontrei um caminho levemente tortuoso que me leva ao meio.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Da busca...

Há muito já passou da meia-noite. Mais uma noite vadia? Daquelas que me empurram pelas horas da madrugada, vacilando entre os minutos e qualquer piada tosca, entre nudez e um banho morno. Já não sei mais o que é tempo e o que não é desperdício: ficar de pijama, num dia de semana, até a tarde, escorrer entre a cama e o sofá, entre assoar o nariz em lenços de papéis frágeis, ir no banheiro lavar o rosto, olhar no espelho e constatar que é melhor olhar mais um poucos os sonhos. Quaisquer que forem eles.
Estou doente, isto é fato. Meu corpo dói, minha cabeça dói, minha garganta dói, minha mente... também dói. Não consigo gerar pensamentos estapafúrdios negando a vida, apontado-a como sem sentido ou qualquer coisa do tipo, quando o errado sou eu. O errado são meus conceitos quebrados, montados num tiro de canhão de várias doutrinas ideológicas e racionais, apontado para o suposto teto de vidro da fé. Quando na verdade é uma armadilha que rompe uma teia invisível e cai no meio do nada... Se eu não souber tomar cuidado posso estar ainda mergulhando nessa profusão niilista, e que isso não passa de um sonho dentro dum sonho, uma caixa chinesa, repleta de mentiras, retalhos e desencaixes.
Minha dor no peito, meu estado doentio, meus pensamentos extremamente racionais e chatos, tudo isso são minhas provas de que isso com quase total certeza (ainda assim, quase) não é um sonho.
E disso tudo poderia tirar um pouco de absurdo e diversão, mas nada além de uma torcida nesse pano velho que é a realidade, molhada por todas as crenças. Nisso tudo: qual o valor de tantas viagens entre a razão e todo o resto que só sobra perante a Deusa Razão? Nada mais que re-estruturações de conceitos e mergulhos poéticos na lasciva por qualquer pele, carne e complexo mental, de qualquer uma que desfila na mente laboriosa e atrasada de uma vida que já passou! Nada mais que um sem-sentido sem sentido.
Prefiro meu jeito deslocado de andar entre a fé, os conceitos, alguns dogmas e uma investigação torta perante ao que podemos ser. Se é que é isso...

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Contemplação pelo horizonte do ceticismo.

No ponto de ônibus encontrei uma moça que estuda também na minha universidade, mas em outro curso. Não lembro qual exatamente. Enfim, ela lembrou de mim, que faço filosofia e na época coincidentemente (ou não) estava lendo sobre o ceticismo pirrônico. Hoje estava lendo o Passeio do Cético do Diderot. Ela questionou, quase numa afirmação: Você é bem cético, ?
Parei para pensar. E avaliei com ela mesma algumas coisas sobre isso. Inclusive sobre o ceticismo, deixei-a talvez com a cabeça revirada. Disse: talvez eu seja bem cético, mas, ao meu ver, para ser um bom cético temos que duvidar inclusive dos nossos próprios questionamentos, colocando em prova várias coisas, inclusive as próprias provas. É uma obra difícil agir desse modo, talvez agir do modo "bem cético", como você disse, ou totalmente cético seja algo impossível para o ser humano. Veja: vivemos num mundo que está entre o dogmatismo e uma perturbadora falta de objetivos, homens e mulheres perdidos que vivem "tranquilamente" sob esse regime vazio, quase niilista. Temos opiniões formadas, critérios falhos e decisões estereotipadas. Talvez isso possa ser o correto, talvez a moral de rebanho seja certa. Talvez não. E por isso um cético "DE VERDADE" seja algo praticamente impossível, por em prova tudo e todos e estar em dúvida e manter sempre uma critica na ponta da língua pode ser algo mais para DOGMATICAMENTE cético do que cético DE VERDADE.
Achei que ela iria soltar um "ahhnn!", emudecer-se e mudar de assunto ou até fingir que nem tinha me visto. Pelo contrário, ela continuou a puxar assunto e falar, enfim. Uma companhia agradável numa noite fria de sexta-feira enquanto o ônibus demorava a chegar. Enfim...
Conversamos sobre destino, livre-arbítrio, acaso, determinações futuras. Percebi que enquanto conversávamos não tinha mais nada a dizer COM CERTEZA sobre nada, comentava sobre os livros, mas deixava meus comentários abertos as opiniões dela, quanto ao destino, livre-arbítrio, etc. eu só questionava, argumentava e acrescia coisas através do que ela mesma me dizia.

Isso é um sintoma: estou cada vez mais indo mesmo por um caminho do ceticismo. O que é valioso nisso tudo não é a covardia que muitos acusam os céticos, mas a ousadia de caminhar sem chão! Ou melhor, caminhar por chãos desconhecidos. Na minha opinião, que pode muito bem que mudar, o cético não pode questionar muito o outro com argumentos exteriores aos próprios argumentos das pessoas... O cético é um filosofo desarmado de teorias, argumentos, sínteses, conceitos a priori, etc. etc. etc. O cético é um sobrevivente no meio da floresta da filosofia. É um lugar arriscado que ele caminha tentando sobreviver através das coisas que lhe aparecem. Questionando, avaliando, buscando, argumentando, enfim, o cético busca não derrubar idéias, mas ver o quão fortes elas são, quão profundas e complexas e interessantes elas são, para talvez até começar a crer em algo realmente. O cético tem que aceitar a possibilidade que no dia seguinte pode tornar-se um crente numa certa verdade suprema...
Agora os métodos para um cético viver são vários. Atualmente vou seguindo pela empiria daquelas coisas que dão certo e me são úteis. Vamos ver até onde isso dura.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Uma outra divagação: "Uma viagem dentro da viagem" ou "Qualquer coisa de um qualquer!"

A forma dele viver era simples, ele não exigia tanto da vida, não mais. O que precisava: estar rodeado de bons livros, ter uma cama confortável, boa comida e bebida, e as vezes, que sobra-se um pouco de dinheiro para sair numa noite que desse vontade. Ele percebia que era muito diferente das outras pessoas, mas ainda assim uma pessoa comum. Quando relacionou a possibilidade dele ser comum com o fato de que ele tinha que conviver consigo mesmo o tempo todo, estando ou não consciente, ele percebeu que ai estava o segredo do seu desagrado... ou seu conforto, dependia sempre do momento.
Sua opinião era sempre ambígua e ele nunca mais conseguiu ser extremista em mais nada - a não ser em ser extremista e radical com pessoas que eram extremistas e radicais, meio que se revoltava com as "grandes opiniões", as "grandes verdades" ou quaisquer outras ideologias meio capengas que ele nunca entenderia porque conseguiam fixar-se tão fortemente em cabeças fracas, não podia ser só pela cabeça fraca e pouco pensante, mas não sabia o que mais podia ser...MESMO.
Opiniões para ele eram como andar de ônibus: mesmo que tal caminho tenha que ser feito várias vezes, da mesma forma, passando pelos mesmos lugares, etc. muitas vezes - ou quase sempre, depende do ônibus - os passageiros mudam, o motorista muda, mas o percurso pode se manter o mesmo. Mas quando você precisa ir para algum lugar diferente não irá poder usar o mesmo ônibus. A opinião muda, TEM que mudar.Ela sempre muda, até mesmo quando o caminho é parecido, e muda ainda mais quando o caminho é diferente. Ainda mais, nem sempre estaremos no controle, ele pensava - quase nunca para dizer a verdade, pode-se saber o caminho que o ônibus faz, mas quem guia é o motorista -, e quase sempre quem guia é alguém que pouco conhecemos, que muitas vezes não sabemos os planos da "viagem".
Enfim essa metáfora para ele sempre foi boa, as vezes chegava a ser hermética até para ele, mas quando ele falava dela muitas pessoas se impressionavam. Isso significava alguma coisa (ou nada), que pelo menos enganava bem as pessoas, que talvez sua OPINIÃO enganava bem! Hahaha. Uma viagem dentro de outra viagem, parecia agora uma meta-metáfora feita por algum cientista físico quântico ou algum usuário de LSD, ou por um físico quântico usuário de LSD.
Com as opiniões ele fazia o mesmo que uma senhorinha, que havia conhecido pelos seus pais, uma cliente do comércio deles: ela aproveitava sua aposentadoria e seu passe gratuito pelos transportes públicos pulando de ônibus em ônibus, viajando, viajando... Ele era ela em suas opiniões: um viajante, louco e transeunte, que passava por diversas vezes nas vidas de outros em diversos outros caminhos.
Queria ele ser assim em todos os instantes, quase uma metáfora de um neo-cínico imitando os velhos gregos cínicos, ou um louco... Ou algum qualquer que criou uma história qualquer em uma outra vida qualquer. Antes ser um QUALQUER desses do que qualquer outro esquecível.
No final ele perguntou-se: vale mais uma vida lembrada pelos outros ou qualquer outro tipo de vida? ... O que valia na vida afinal? Sempre que se perguntava ele sentia que não iria viver muitos anos, não o suficiente para responder essa pergunta.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Meta-argumentação II: ah, sei lá! Qualquer crítica contra qualquer coisa.

Minhas vistas já estão cansadas e doem, quanto mais insisto em tentar compreender conceitos e mais conceitos percebo que o trabalho está sendo inútil. Só de teimar em relacionar conceito X à Y, de buscar significados e significâncias, (se é que há muita diferença) e FORÇAR qualquer compreensão maior, já aponta uma anti-naturalidade dos fatos. Posso estar preconceituando os textos herméticos e tolices cheias de verborragia que gostam de serem difíceis, mas as melhores idéias que foram-me apresentadas eram as que mais tinham clareza: os conceitos eram bem apresentados, as associações e exemplos eram precisos e incisivos, o objetivo desde o inicio estava claro... Enfim, eloquência e habilidade (ou vontade) em querer se fazer inteligível, e não a nundinae loquacitatis("feira de tagarelices").
Tomo por me arriscar em escrever tudo isso e agir conforme os alvos de minhas criticas. Mas o que falo aqui não é tão somente uma critica, mas uma avaliação posterior a várias leituras e comparações de incontáveis autores e a inteligibilidade de suas idéias. Mas é cometer uma injustiça também, colocar um autor que decidiu explicar sobre determinado assunto "naturalmente difícil" no hall dos "autores complicados".
O fator que gera a critica não é a dificuldade do texto de maneira nenhuma, porém o MODO como esse texto é tratado e de que forma as explicações se fazem inteligíveis. Não se pode exigir milagres textuais, vamos dizer assim, contudo podemos "exigir" do autor um esforço em ser mais objetivo e menos prolixo, verborrágico, etc. etc.


PS.: Antes de uma crítica a determinados autores, isto é uma auto-crítica.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Meditação III

Eu poderia escrever aqui muitos outros poemas, textos e idéias. Mas sempre chega um momento em que o que falta não são palavras, ações ou idéias... O que faltará será: um olhar, um toque, um beijo... um gesto qualquer que, mesmo sendo infinitesimalmente curto, dura por toda a eternidade.
Quiçá valeria toda eternidade! Pois nele está contido todo o silêncio que deve ser ouvido, mas é ignorado e todo espaço e todo sentido que não precisa de métrica ou razão. Só acontecer é o que basta.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Poema III

Será impressão minha?
O mundo está mais poeta,
As pessoas exalam palavras
Rimas, prosas e versos...

Tudo está tão mais poesia,
nem feliz, nem triste
Uma palavra em riste
uma lágrima caindo
entre o papel e a tinta
confunde, arguia,
todo um dolo selvagem
de palavras, ora alegres,
ora tristes, quão verdadeiras?
Tão presas, em certezas vazias...

O que solto de minha boca,
nem é um grito, nem um pranto,
Nem arfar do cansaço de dias,
O que sai é dúvida sensível,
sensata, sincera, mas despreparada.

Não ouso pendurar bandeiras
Que ditem idéias e clamem o medo,
Que acham-se puras, boas e justas.

Não quero impelir minhas certezas
Que nem sei se tão certas são
Quero só uma boa dúvida
E prefiro até o fracasso pedagogo
Do que a vitória vazia...
(...Que vitória é essa, afinal?)

Demoro a dar os passos
Olho, à procura de pedras,
para o chão calcado por anos
Quantos pés já recebestes?
E quantos duraram?
Quantos pereceram?
Quantos caíram de joelhos,
com mãos aos céus,
pedindo clemencia?

Não quero certezas,
talvez, poesia, talvez...

Quero sentir enquanto há tempo
até o sempre, quando não me sobrará
mais dias atrás de dias.

Não quero certezas, não
talvez poesias, talvez erro,
insensatez, ação e beijo
cheiro e vida e abraços
lasciva, suspiros e olhares...

Não quero certezas,
elas não me bastarão!
E se for a poesia,
que seja a mais bem sentida!

Poema II

Minha fé: algo entre o crer e o descrer.
Sempre através de contradições
De agouros e de revoltas, mantenho-na.
Algo que causa susto e dor, ao mesmo tempo
que fá-la implorar por certeza, de mim,
em minha dureza...

Um suspiro quando a paz toma-me os segundos
Um grito entalado, abafado por minha dores,
tais dores que num ciclo, causaram o grito.
Sobra-me o tempo que escorre e flui
sob a dura e pesada espera: a paciência.

[inacabado?]

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Poema I

De sonhos, de quaisquer ilusões,
De fraquezas criadas e dores sentidas,
Tiro minhas próprias conclusões, mas...
Será só crescimento ou vontades rompidas?
Será só a dor que ensina e a felicidade
só corrompe, anestesiando a consciência?

Meu passado cumpre com o presente,
O que não pude cumprir com a vida
Até agora. Quê fareis com essa dúvida crescente?
ainda preciso d'algo: saldar esta divida!

Por aquilo que desejo, de tudo aquilo que fujo:
Eis aqui todo meu rancor, Oh, fado,
Porque ainda, mesmo honesto, me sinto sujo?
De todo o sacrifício, só ônus me é dado.
Não quero mais, descumprir com falsidade,
O que diante de Ti, Oh, nada pode ser ocultado!

Meu coração só clama: que desta busca saia verdade.
Ei de cumprir então mil anos de mil vidas
Para que algum dia alguns segredos, a mim,
Sejam desvelados!

domingo, 27 de junho de 2010

Meditação II

Divagando metafisicamente:

O mundo das idéias é tão fantástico quanto limitador: dele partimos para dentro dele, até um infinito e nunca chegamos a lugar nenhum. Num mundo sem medidas prováveis e visíveis as possibilidades caem em quantidades, se não "infinitas", próximas a ocupar nossas mentes por todos nossos anos de nossa vida. Mas de onde tudo parte? O para onde é uma pergunta ingênua ao meu ver, por isso acho melhor o de onde. Serão os arquétipos primordiais que formam e se somam uns aos outros, se multiplicam e seguem uma matemática única deles que com o tempo dimanam possibilidades recheadas por uma probabilidade infinitesimal. Parto da idéia de Abellio:

"Os números 1 e 2 se mantêm fora da manifestação espacial, e sua exclusão se prende, diretamente, à lei fundamental segundo a qual qualquer manifestação exige a trindade e começa por ela."
E chego na conclusão rápida, de uma outra velha citação que não lembro com exatidão e nem de quem é:"do um gera-se o dois, e do dois o três... do três gera-se todas outras dez mil coisas." Vide que, para a Kaballah, 10000 é um número grande, representa a diversidade: uma infinitude, digamos. Logo, o ponto é que com os 10 algarismos/números temos possibilidades gigantescas. Então o princípio pode ser único ou serem poucos. Talvez essas certas fontes básicas... espalhando-se e ampliando-se sempre... em novas formas... novos conjuntos.

sábado, 26 de junho de 2010

Em busca: uma perda, um arrependimento...

Tento fugir dessa minha arenga ontológica quando a vejo, quando falo-lhe. Fracasso tanto em objetivo quando em ato: aninhado em seu colo, numa profusão mental - a de sempre - que aumenta só de ver esse olhar que me encara, sem medo - que admira? que busca? o quê busca? -. Quê olhar é este que me prendeu a dias? Como posso aceitar esse meu excesso de contemplação? Eis que poderia ter-lhe feito minha amante? Deveras na contingência perturbante eu só tenho as dúvidas cheias de falta de quaisquer respostas. Posso e não posso. Torturo-me eternamente por todos momentos iguais passados e que fazem da dúvida esse deus algoz dos espíritos que afinam-se nesse caminho que é questionar. Finjo que sou o último, o mais provável: quando seria o melhor momento... ou já passara... não sei. Por isso perco o seu colo quente e confortável para o frio avassalador dos dias sozinhos sem resposta. Perdi um beijo seu, ganhei mais dúvida. Perdi...
Fazendo de conta: minha última dúvida: será ainda que posso resgatar o que ainda nem tive?

Análise dos meus sonhos I


A experiência de ter sonhos com perfeição e um realismo única pode ser assustadora no início. Mas a experiência de "visitar" lugares reais durante o sonho pode parecer mais ainda. Muitos nomes para essa experiência podem ser dados: projeção de consciência, experiência extra-corpórea, viagem astral, desdobramento astral ou de consciência, etc. Mas pessoalmente não consigo dar nomes as coisas que não tenho plena ciência ou certeza, pois não sei se é meu desdobramento astral, se é uma projeção mental ou de consciência, não sei o que é, afinal, digo que simplesmente é uma experiência X.
Bom, não querendo reduzir essa experiência ao nada, mas desconstruí-la em busca de maior compreensão eu prefiro não tentar entendê-la através de "ciências holísticas" e coisas do gênero. Mas por uma busca interior, numa "ciência" de si mesmo.

Posso relatar em partes a experiência, pois só lembro de trechos:
Eu estava caminhando a noite por uma rua próxima de casa de shorts e camiseta com um cobertor antigo meu, estava fria a noite e eu sentia o frio. Nessa hora olhei para o céu e lá estava a lua como hoje, cheia. (mais tarde, quando acordei dessa "soneca" que durou o fim da tarde e o início da noite, a lua estava lá no mesmo lugar que nos sonho, digamos: na mesma direção, mas só cheguei a vê-la quando acordei.) Então eu pensei: até que enfim parei de sonhar e acordei! (Sim, no sonho pensava isso e sentia a realidade e todas sensações) Havia tido outros sonhos que agora estão confusos, não lembro quase nada. Então comecei a ouvir uma música (e essa parte é a mais interessante e complexa. Porque eu me confundia com a direção de onde vinha a música, como muitas vezes acontece na realidade, e a música aumentava ou diminuía a partir do momento que eu ia na direção) Nessa hora eu já estava mergulhado no sonho e crendo nele como realidade. Segui a música, (era a música que eu estava ouvindo enquanto eu dormia, costumo ouvir música enquanto durmo) e de repente de um lugar familiar ele transformou-se em um totalmente diferente. Era uma entrada de mercado, com passagens para paradas rápidas de carro mas a passagem estava bloqueada porque acontecia uma apresentação, que agora não lembro exatamente do que: se eram dançarinos, se era circense, mágica (acho que não)... Fiquei assistindo e me sentindo deslocado, com meu cobertor e meu vestuário caseiro... Queria ir embora, mas não sabia como ir. De repente localizo no passeio do outro lado da rua uma amiga que tenho muito carinho. Ela estava sempre bem vestida como sempre, e eu sentia já um frio muito grande, estava realmente frio. Todos vestidos com roupas de inverno, enquanto eu ainda estava de shorts e camiseta com o cobertor velho. E procurei esquecer meu desconforto mental e físico e quis fazer uma surpresa chegando perto dela, por trás, dando um sustinho. Quando cheguei perto e a toquei ela me ignorou e continuou a andar, eu tentei de novo e de novo. Nessa hora o cenário mudou um pouco e ela do nada (não lembro exatamente) ou me abraça sorrindo dizendo que estava brincando ou pula em cima de mim rindo e me mordendo. Nisso ficamos abraçados eu sentia o calor do corpo dela, o volume de várias roupas, o toque da mão fria dela nas minhas mãos quentes e o rosto dela com uma textura agradável. Ela me olhou nos olhos e me empurrou contra uma parede próxima a nós dois. (Agora era um corredor branco, com aberturas para céu aberto entre as colunas do lado direito, contrárias a parede em que estávamos. A construção era antiga, aparência meio bizantina, meio grega, era iluminada com archotes intercalados nas paredes e colunas.) E segurou meu rosto e me deu um beijo. Foi um beijo quente, profundo, violento (com mordidas etc), e bem próximo... Nos olhávamos entre uma parada e outra dos beijos e continuávamos a nos beijar. As carícias aumentavam, a sensação dos nossos corpos grudados um no outro, somente separados pelas camadas de roupas, era de um realismo "sensitivo" absurdo. E começamos a nos despir... Enfim... De repente, eu acordei.

Sim, acabou não com uma sensação de raiva por terminar tão de repente, mas de confusão, minha mente REALMENTE achava que eu estava vivendo uma realidade. Que aquilo era realmente realidade!
O que inicialmente parecia uma "projeção astral" para umas ruas perto de casa se transformou num sonho de uma realidade única. Estou fazendo, pessoalmente, várias analises dos sonhos. Achei que escrever ele, manter um arquivo desse sonho ajudaria. E como farei dentre todos os próximos, porque tem ocorrido muitos desses sonhos. Mas principalmente em cochilos durante o dia e quase nada durante a noite.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Uma divagação...

Entre alguns autores que li por ai, vi homens que diziam não serem suicidas por não serem dogmáticos o suficiente para crerem que a morte seria uma solução. Mas, em contrapartida, este mesmo autor dizia que era depressivo, uma hiena filosofante. Emil Cioran é de quem falo. Ele como bom cético, mas não bom o suficiente, apontou em partes para idéias boas. E estarei sendo paradoxal em, também dizer, que errou ou que foi ruim, corrijo-me: ele não foi bom, nem mau, apenas foi. Vejamos: ao dizer que não podia acreditar profundamente em nada, nem na descrença, ele muito bem que fugiu de um suicídio... mas caiu num viver depressivo, dai sai a hiena filosofante, come carniça, mas ri, mas na realidade não ri. Ou seja, um ser que é mascarado para vestir-se em situações. A hiena ri, uiva, é silenciosa. Mas... e por dentro o que passa? Odium fati, essa é a saída anti-nietzscheana de Cioran. Aceitar a vida, o niilismo, para Cioran, não é mais descobrir o amor fati pelas coisas e pela vida, mas a vida, desse modo aparentemente caótico e sem explicações, merece o ódio por tudo isso, por justamente não ter explicação. Daí, como sempre, um castelo de cartas desmoronando ou como em efeito dominó, disso acaba na depressão, na tristeza profunda.
Ele teve uma escolha, nós precisamos sempre escolher por qual ponto de vista iremos olhar para a vida. Somos corpos que vivem e adquirem experiência, podemos olhar para algo que nos remete a um passado, sofrer por isso porque aquilo nos remete a também todos males que passamos por isso, como que bem pode ser todas as coisas boas... O corpo é memorioso, disse Espinosa. Logo, em maior parte, podemos afirmar que o mais profundo é a pele, o cheiro...que o mais profundo é o olhar. E o pensar, supor talvez, o que ele - o olhar - significa, o que ele quer nos dizer: o olhar fixo que nos intimida, o que ele diz? o tímido que nos faz sentir donos da situação, por que és assim? Como o toque certeiro de uma mão sedenta, na pele nua de um corpo, como rio, permite ser adentrado? Tanto como o toque tímido e desprovido de experiência, coragem, mas que busca e nessa busca percorre... O que ocorre é experiência. Tantos outros sentidos, tantos outras infinitas possibilidades!
O corpo tem memória porque é através dele que experimentamos o mundo; podemos abstrair tudo no campo da mente - e o fazemos -, mas o que vale é tudo isso, já dito, sendo: o toque - como os dos lábios, das mãos... -, o olhar - que pune ou que é cumplice do amor -, o cheiro - que nos anestesia, nos deixa famintos, inquietos, hiperativos! -, o sabor - por que não falar de novo do beijo? Como também de tantos outros sabores -, a palavra - som que pode ser belo, que pode ser vil, que pode ser sincero - e todos outros sons que sem eles o que são as cores? - Então, em suma, somos só sentidos e abstração? Só? Se isso não for o bastante: Talvez. Quem pode afirmar ou negar isso?

O mais válido nisso tudo é justamente isso tudo, a experiência. Todas ações e reações. Toda energia e substância. Todas coisas em unicidade, dualidade, que transcorrem até o infinito. O negativo existe, assim como há também um positivo. Não sei se há equilíbrio (espero que haja), mas quem dosa as coisas somos nós.

Os fatos, em si mesmos, não possuem características algumas, se formos analisar bem. Nós depositamos o que achamos, o que parece nosso, também o que parece ser socialmente aceito, senso comum... Os fatos então são todo um conglomerado de características do mundo expressas numa parte só, ou seja, num fato. E fatos são conglomerados unindo-se uns aos outros, e explicando uns aos outros, como também negando uns aos outros.
Aonde parece que quero chegar com tudo isso? Pode parecer confuso, mas mesmo uma postura cética ainda tem fortes chances de fazer parte deste conglomerado que auto-afirma-se como cética. Logo, não vamos negá-la ou contradizê-la ou deixá-la de lado. Poxa, é um instrumento a ser utilizado, como tantas outras coisas. Não sobrepor nada a nada? Também não sei se isso é possível.
Mas nesse viver e aprender - pelos sentidos, pelas idéias, por tudo o mais -, temos chance de viver de formas incríveis: é só olhar para o mundo e ver tudo que o homem já foi capaz de fazer, tanto para o "bem" como para o "mal"(entre aspas para não entrar em nenhuma discussão ética-moral).
Nisso, o pessimismo pode me ser útil, esclarece e justifica minha dor e minha inanição, como o otimismo justificaria o "não-ligar" para os erros... Por isso Cioran, foi muito bom enquanto durou o meu casamento com sua idéias. Mas agora outorgo-me ideologicamente solteiro.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Meta-argumentação

Me sinto cansado de TER que TER bons argumentos. Simplesmente prefiro o conhecido "papo-reto" do que toda uma estruturação lógica condicionada pelo sistema epistemológico de parecer "ter que explicar para qualquer um sobre qualquer assunto". Seria interessante isso... caso fosse igual a essa teoria. O problema é que leia muitos livros de comentadores de filosofia, de analistas políticos etc. O que vemos? um monte de blablablá afastado do que É, para uma análise superficial sobre tudo.
Como podemos nos achar sabendo sobre o que ocorre na política pelos jornais e revistas cheios de suas censuras comerciais e parcialidades, ou as informações que obtemos no próprio mundo acadêmico, que promete-nos informações livres de qualquer parcialidade, qualquer "qualquer outra coisa" que nos impediria de analisarmos as informações pela pureza dos fatos. Inclusive o mundo acadêmico torna-se uma "fraternidade" daqueles que tem acesso "as reais informações", puxa, como se ao entrarmos numa universidade, entrássemos também num acesso direto a um oráculo de informações reais.
É só ver uma pessoa antes e depois de entrar num curso qualquer de faculdade: se é direito, ele analisará tudo sob a ótica jurídica, se é filosofia, sob a ótica crítica, psicologia, sob a ótica psicanalítica etc. Uma verdadeira doutrinação de mentes. Você se transforma em um especialista e também em um grande babaca que segue as normas de como querem que sigam SEMPRE.
Grandes mentes, pouco conhecidas pela mídia, que eu admiro simplesmente abdicaram do mundo acadêmico. Viram que nele só teria um terreno infrutífero cheio de mimimis que impõe desde o início uma falsa liberdade na pesquisa. Você é livre, sim, para pesquisar aquilo que é outorgado "seguro" e com cidadania acadêmica.
Não se pode pesquisar alguém que tenha recebido um título de guru, por exemplo, sem que cai no cinismo degradante de que este não falava coisas sérias, mas pode pesquisar um "grande autor" que dizia que filosofias eram só retórica ou só discurso própria, opiniática... Pera ai, que mundo lógico ilógico é esse? Contradições atrás de contradições baseados no argumento do Livre Pensar. Mas que Livre Pensar de merda é esse? Posso colocar todas grandes idéias em pé de igualdade... mas umas serão mais iguais do que outras.
Posso muito bem ficar litigando em busca de respostas para isso como se eu estivesse em mais um meta-alguma-coisa, no caso, um tribunal que julga os próprios julgamentos, mas não dá. Por isso, sobra-me cair de cabeça nesse mundinho, ou deixá-lo de lado os blablablás e mimimis, mas continuar com a crítica, continuar com a filosofia.
Não há dúvidas em minha escolha, não é?

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Meditação I

Em uma conversa com um amigo ontem cheguei a uma conclusão precipitada: não tenho nada! Mas hoje ao acordar, ver o dia bonito, me vestir e deitar sob o sol forte, percebi: eu tenho tudo. Um provérbio antigo dos árabes diz: "Só é seu aquilo que pode salvar sem problema algum, em um naufrágio". Ou seja, nada material não atrapalhará o suficiente para você salvar e ser salvo tranquilamente. É um provérbio simples. A idéia é simples.
Eu não tenho nada, porque não preciso de nada. Logo, eu tenho tudo que me é necessário. Todo o resto que me aparece em vida é um lucro virtual, imaginário. Ganhei, mas um dia posso perder, aliás, um dia VOU perder. Logo, os pontos de vistas podem se contrair, se adaptarem, transformarem-se em novos... tudo pela facilidade que isso provoca na vida de cada um. Prefiro ter tudo e não nada. Simples ataraxia mental de meu psicológico adaptado a entender conceitos pelo "O QUE ELES PODEM SER NO MUNDO". Entender que tudo é "melhor" que nada, é algo visualmente claro. Não precisa conceituar muito tempo o que é tudo e o que é nada. Na pior das hipóteses, tudo ainda é melhor que nada. Só uma mente muito fatalista e perdida em idéias e poesias depressivas é que pensaria no nada como saída de algo.

Tenho tudo. Essa é a cartada final para alguém que vê-se no olho do furacão em busca de algo e que tudo lhe foge e fica rodando, rodando, rodando... Coisas no caos, na destruição... estar no olho do furacão? Uma saída! Buscar o centro é uma saída. O equilíbrio. Tenho tudo e não tenho nada. Melhor assim. Sem muito apego, sem muito ilusão, pelo caminho... pelo aqui-agora.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Uma história sobre a Gentileza

Vou contar uma breve história...

Começou ontem a noite com uma de minhas várias insônias que me fazem pensar, pensar, pensar, etc. etc. etc. e pensei uma coisa muito rotineira: dividas. Lembrei das minhas contas e... puts! Quando iriam vencer? Olhei na internet e fiquei assustado quando vi que o vencimento era para hoje. Hoje de manhã acordei cedo, fui falar com minha mãe sobre isso. Ela viu e percebeu que havia esquecido (coisa rara, ela sempre lembra DE TUDO) e então não era a minha, mas a da minha irmã. Então ela pediu se eu poderia ir pagar, porque minha irmã estaria ocupada. Eu fui. No caminho, peguei o ônibus e como sempre se é possível deixo as senhoras passarem, etc. Chegando lá abro a porta como sempre faço, para quem sai e dou passagem e depois entro no banco, etc. Essas coisas simples, sabe? Na volta, estava para pegar o ônibus e havia um cadeirante, provavelmente ele esperava a um bom tempo aqueles ônibus de plataforma mecânica. Chegou um ônibus para nós com espaço para cadeirantes, mas aqueles ônibus de um engenheiro BURRO, que espera que o altruísmo estará presente em todos os passageiros que pegaram o mesmo ônibus do cadeirante, pois este não tem as plataformas levadiças. Enfim, ele já estava na idéia de esperar o próximo com essas plataformas, mas enfim, me predispus a ajudá-lo, oras, que trabalho seria? Na hora de colocá-lo no ônibus teve quem se ofereceu... Mas na hora de descer, não! Então fiquei feito besta, imaginando como desceria ele sozinho, quando a cobradora(sim, eram mulheres, cobradora e motorista, logo, uma dificuldade para elas fazer isso) meio em tom de "puta merda, gente!" pediu quem poderia ajudar. Um perdido veio ajudar. O cadeirante agradeceu, e continuamos a viagem. Na hora de eu descer no meu ponto, foi normal como sempre. E vi que uma moça estava correndo para não perder o ônibus que eu havia perdido, então dei um toquezinho na janela da cobradora para ver que a moça já estava do lado do ônibus, mas eu me entortei e quase cai no chão e torci o tornozelo (risos). A moça grata, ficou meio sem reação, logo me recompus e ela agradeceu. Cheguei em casa e almoçarei a comida fria, pois fui no banco no horário de almoço.
Enfim...
O altruísmo é uma merda porque o cosmos não se adapta a me retornar as gentilezas? Não acho. Oras, é muito fácil por a culpa num supraterreno que não sabemos como funciona, é muito fácil dar qualquer desculpa em não sermos generosos com o próximo. E mais, não acho que seja pura generosidade, é mais atitudes práticas. Veja: eu fui pagar as contas invés da minha irmã porque sei que ela tem dificuldades nessas coisas de banco, etc. Já eu faço rápido tudo isso. Ela indo poderia se atrapalhar, demorar, ligar pra minha mãe, enfim... Abrir uma porta para alguém pode não ter algo muito prático, mas em geral quando você faz isso você facilita a passagem. Oferecer-se para ajudar ao cadeirante foi pelo fato de que prefiro me arrepender sempre de algo que fiz do que de algo que não fiz, e entre fazer e não fazer prefiro a primeira opção. Ajudá-lo a sair de prontidão é pelo simples fato de agilizar a viagem. Ajudar a segurar o ônibus para alguém que está vindo é uma atitude que sempre fico muito grato quando alguém a faz por mim, então faço pelos outros.

Não vejo as pessoas como cegas ou más. Vejo como perdidas. Não sabem o que fazer numa situação que alguém, em geral desconhecido, precisa da ajuda dela. Ajudar nessas condições conota muitas coisas: "vão achar que faço isso para chamar atenção", "...para parecer uma boa pessoa", não faço porque "vão me achar tolo", "perdendo tempo", etc. Mas o ato de altruísmo me parece mais uma atitude prática do que qualquer outra coisa. Enquanto vejo filósofos discutirem em ética sobre se o altruísmo é ou não uma atitude sincera e de bondade natural, acho que deveriam ver a seguinte opção: O altruísmo ajuda ao mundo ser mais prático ou não? É uma atitude que transforma situações de desconforto em conforto mental, etc?
Ainda terão os que falaram que esse conforto, essa prática, essa atividade mais ágil é tudo corroborada por uma sociedade que necessita que o mundo seja prático... É mesmo? Então porque é tão ineficiente todas essas atitudes na prática? Digo isso porque tudo que a sociedade necessidade do povo quase que sempre ela consegue. Ela não necessita de altruísmo, ela necessita de qualquer darwinismo tosco sobre sobrevivência do mais forte, e dar migalhas aos fracos. Não uma evolução mutua, mas o mesmo "subir ao topo sob a cabeça de outros".
Não entro em maiores discussões, porque essa não é a viés desse pequeno "comentário" sobre o mundo, mas um simples consenso a que chego.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Conhecer?

O que de fato é conhecer? Essa pergunta, antes de qualquer perda de tempo com tentativas "em conhecer", deveria ser feita. Pergunta-se: o que é o bem e o mal, o que é virtude, moral, verdade, etc. Mas, de modo prático esqueceu-se do que é conhecer. De modo cético, permanecemos num espaço apertado da mente, mas de um modo cético e vazio. Não há sentido, nós criamos o sentido, logo nos tornamos permissíveis a qualquer bobagem. Mas avaliando de perto chego a uma conclusão aparentemente confusa: mesmo quando criou-se dogmas, criou-se sentidos achando que eles fossem verdades, mesmo na enganação e na abdicação da postura cética, o homem ainda assim, sob a mesma perspectiva cética, criou um sentido aonde antes não tinha. Criar sentidos então tem que ser respeitado não importa quais? Entraremos então em questões morais. Entraremos na questão de invadir o espaço de outro! Sem muita enrolação metaexplicativa, eu visualizo do seguinte modo (quase que em um organograma): Viver necessita de sentidos. > sentidos são criados pela experiência e pela busca subjetiva de cada um. > Experiência: viver sob os sentidos já criado por outros. > Logo, uma cópia de sentidos, quimeras ontológicas. > Então a contradição quase que se torna eminente aqui. Muitas contradições.
O fato de buscar um sentido confronta com a idéia cética, logo, é questão conceitual dizer como o cético usa ou não o ceticismo. Podemos adentrar, inclusive, que não existam pessoas realmente céticas, mas existem pessoas que se utilizam do ceticismo como um instrumento avaliador de idéias (portanto, de sentidos também). Podemos adentrar em todas e quaisquer questões que não levarão a nada, só pura conceituação cheia de perambulações pela lógica, pelos princípios de não-contradição e que na aplicação do dia-a-dia nada servem. Sentido prático é apresentado? Pode ser para alguns, para mim: uma necessidade em visualizar as coisas a partir do nada para o nada. Sentidos? Virão e irão embora. Contradições? Aos montes... Como sempre estruturadas nesse nosso aristotelismo em ver as coisas.

Logo, o conhecimento, um instrumento para quem busca, seria o que nas mãos de cada um? Busca pura e simples de sentido? Forma de exercer poder? Exercício desgarrado de qualquer pretensão do ego? O que...

Uma dentre tantas dúvidas dantes já ocorridas em tantas outras mentes.