sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Contemplação pelo horizonte do ceticismo.

No ponto de ônibus encontrei uma moça que estuda também na minha universidade, mas em outro curso. Não lembro qual exatamente. Enfim, ela lembrou de mim, que faço filosofia e na época coincidentemente (ou não) estava lendo sobre o ceticismo pirrônico. Hoje estava lendo o Passeio do Cético do Diderot. Ela questionou, quase numa afirmação: Você é bem cético, ?
Parei para pensar. E avaliei com ela mesma algumas coisas sobre isso. Inclusive sobre o ceticismo, deixei-a talvez com a cabeça revirada. Disse: talvez eu seja bem cético, mas, ao meu ver, para ser um bom cético temos que duvidar inclusive dos nossos próprios questionamentos, colocando em prova várias coisas, inclusive as próprias provas. É uma obra difícil agir desse modo, talvez agir do modo "bem cético", como você disse, ou totalmente cético seja algo impossível para o ser humano. Veja: vivemos num mundo que está entre o dogmatismo e uma perturbadora falta de objetivos, homens e mulheres perdidos que vivem "tranquilamente" sob esse regime vazio, quase niilista. Temos opiniões formadas, critérios falhos e decisões estereotipadas. Talvez isso possa ser o correto, talvez a moral de rebanho seja certa. Talvez não. E por isso um cético "DE VERDADE" seja algo praticamente impossível, por em prova tudo e todos e estar em dúvida e manter sempre uma critica na ponta da língua pode ser algo mais para DOGMATICAMENTE cético do que cético DE VERDADE.
Achei que ela iria soltar um "ahhnn!", emudecer-se e mudar de assunto ou até fingir que nem tinha me visto. Pelo contrário, ela continuou a puxar assunto e falar, enfim. Uma companhia agradável numa noite fria de sexta-feira enquanto o ônibus demorava a chegar. Enfim...
Conversamos sobre destino, livre-arbítrio, acaso, determinações futuras. Percebi que enquanto conversávamos não tinha mais nada a dizer COM CERTEZA sobre nada, comentava sobre os livros, mas deixava meus comentários abertos as opiniões dela, quanto ao destino, livre-arbítrio, etc. eu só questionava, argumentava e acrescia coisas através do que ela mesma me dizia.

Isso é um sintoma: estou cada vez mais indo mesmo por um caminho do ceticismo. O que é valioso nisso tudo não é a covardia que muitos acusam os céticos, mas a ousadia de caminhar sem chão! Ou melhor, caminhar por chãos desconhecidos. Na minha opinião, que pode muito bem que mudar, o cético não pode questionar muito o outro com argumentos exteriores aos próprios argumentos das pessoas... O cético é um filosofo desarmado de teorias, argumentos, sínteses, conceitos a priori, etc. etc. etc. O cético é um sobrevivente no meio da floresta da filosofia. É um lugar arriscado que ele caminha tentando sobreviver através das coisas que lhe aparecem. Questionando, avaliando, buscando, argumentando, enfim, o cético busca não derrubar idéias, mas ver o quão fortes elas são, quão profundas e complexas e interessantes elas são, para talvez até começar a crer em algo realmente. O cético tem que aceitar a possibilidade que no dia seguinte pode tornar-se um crente numa certa verdade suprema...
Agora os métodos para um cético viver são vários. Atualmente vou seguindo pela empiria daquelas coisas que dão certo e me são úteis. Vamos ver até onde isso dura.