quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Exaltação

Essa exaltação me toma por completo. Renasço todos os dias quando nos reinos de Morpheus adentro e desperto, emergindo, no dia seguinte, do mar coletivo de todos nós. A cada dia uma lembrança boa, e vivo os momentos instáveis. Inspiro e expiro os bens e os males, como que numa compensação... Nessa jornada pessoal pela minha alma! Me exalto, sim. É extramente contagiante essa busca, que em sincronicidade, me faz me maravilhar com cada coisa nova, com cada coisa velha, com cada coisa descoberta... Com cada coisa entendida, conscientizada, sentida e transcendida.

anamnesis i

Aquilo que provoca estranheza, provoca julgamentos na mesma proporção. Tudo como modo de compensação do não-entender. O estranho - o estrangeiro - sempre é motivo de alarde. Pois só o que é "nosso" (com muitas aspas - o que é NOSSO?) nos trás calma, é comum, vulgar, estável... Ai que mora o risco, e fundamos nossas estruturas psíquicas nesse castelo de cartas. Tomemos cuidado com qualquer certeza e exacerbação do que é de si mesmo. O que está no fundo disso tudo? Se nem ao menos paraste para pensar isso é hora de rever muitas coisas.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

æ i

Tantas, tão únicas! Fico perplexo, embasbacado como criança que vislumbra-se com o novo. É assim: volto a ser mais novo do que já sou, viro moleque que se perde... nesses olhares, nesses cheiros - Quê cheiros! Essências tão raras, hipnóticas.
Me perco no olhar tímido, nas palavras soltas e despojadas, no roçar de corpos no ônibus lotado e em toda e qualquer minúcia que fogem aos conceitos. Quão ímpares e de subtil beleza. Cada qual inspira e incita em mim algo novo, sempre novo... Sempre tão distante!
Que tenham sido infelizes os homens e mulheres que acabaram com esses valores. De algo tão singelo, complexo et ad ultimum lascivo, id est: o flerte.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

TRY^D - THE FINAL REWIND




mankind
what is on our minds
are we running blind
what do we want to find
standing in these lines
waiting for a sign

rewind
will never turn back time
life is on the line
past is all behind

and I do
care as much as you
and try to make it through
what else can we do

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

persona[s] ii

Se você fosse somente metade da verdade que você foi, e assim também perdesse aquilo que foi mentira e me feriu, ainda teria você na mesma intensidade que antes. Mas de utopias e ilusões são feitas as paixões humanas, por detrás de cada beijo, cada olhar estava o mar de confusão e dilaceração de um futuro que nunca acontecerá, no passado que o presente só faria parte de todo o sempre.
Agora também sou metade de mentiras, parte de confusão, parte de desilusão. Enquanto não destruo essa armadura que já muito usei, ainda você estará cravada nesse aço inoxidável de memórias corpóreas, psíquicas...

Persona[s] i


Pela janela, lá fora,
Que beleza de máscaras
Uma alegoria de cores
De gestos e caprichos
Tão cheios de vida
Que transbordam
- para fora -.
[Quem suporta ter tudo isso dentro de si?]

E na expectativa
Afogam-se,
Sozinhos.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A pia.

Tropecei, cai em cima da pia e ela soltou da parede e espatifou no chão. Não que eu a usasse, já estava há muito tempo sem uma torneira, ela era porta-roupa-suja. Espatifou e machucou meu joelho. No chão começou a escorrer do cano uma água que devia estar a muito tempo lá dentro. Antiga e mal-cheirosa.
Tropecei, me machuquei, quebrei mais uma coisa nesse dia, rompi com as possibilidades de me imunizar das dores que podia deixar de sentir. Fiz um milagre às avessas deturpado pelo momento ruim... péssimo. Só sei que já é madrugada, estou machucado e com uma pia em estilhaços no meu banheiro. Ela estava inútil, agora é inútil.
Pela primeira vez no dia encontrei semelhança com algo. - Pia, ao menos você não sente. Irá pro lixo e assim acabou sua utilidade nesse mundo.
Nunca pensei sentir tamanha inveja de algo tão inútil, inanimado e ordinário.

Como se enterrar na merda... [ainda mais]

Quando não é mais necessário nenhum esforço, nenhuma habilidade sobre-humana, nenhuma atitude muito complexa, pois as coisas naturalmente estão acontecendo da pior forma possível, é fácil perceber o quão preocupante e instável está o momento. Eu gostaria de entender o porquê das coisas acontecerem sempre de uma maneira que mais parece uma piada de mal-gosto, aliás, quanto mais vivo mais vejo a vida como uma piada de mal-gosto. Com um senso de humor deturpado e torto, daqueles de pessoas sádicas... beirando à sociopatia.
Eu já, há muito, não mais escrevo, vomito! Ponho pra fora com voz afônica, embasbacada e ofegante, como daquelas pessoas que vomitaram durante minutos afinco, que fizeram deste trabalho o maior de suas vidas - se necessário, e se fosse possível, expelir as tripas pela garganta! - e perderam o fôlego, ficaram sem voz por forçarem demais ela, até arranhá-la mais que carro de professor chato em escola pública no período noturno. Eu já não tenho mais o prazer pueril em escrever, mas nem muito menos acho que adquiri alguma maturidade na escrita. Talvez adquiri mais extravagância, talvez estou cada dia mais próximo da secura de qualidade e sentimentos. Meu estado natural é anti-poético, anti-sentimental, frio, vazio ... e que perambula entre o escuro e a merda. Que prefere chafurdar-se em qualquer canto à grandes eventos...

...Já quando faço coisas belas, poéticas, VIVAS, decido mostrar ao mundo, como quem procura uma chance de redenção, como doente terminal que espera uma cura... Quem sabe! Ainda acho que tudo é possível, mas não é possível para todos.

domingo, 5 de setembro de 2010

Pelo meio. II

ENANTIODROMIADeveras não estou doente, adoeci. A diferença pode não parecer grande, mas é. Estar doente me remete muito a um estado que pode inclusive ser crônico e pleno... de doença! Adoecer é ser levado para um estado abaixo do normal por alguma intervenção (externa ou interna), mas sem vestir-se como doente, sem deixar-se ser levado por essa maré.
Das poucas coisas que ainda acho ter algum valor em Nietzsche é algo que ele falou (que como sempre não foi algo totalmente dele): quando estava são, ele falava da loucura, quando adoecia, falava da sanidade. É interessante, mas incompleto. Já bebi dessa fonte. Talvez os antigos como muitos orientais e até Aristóteles falaram melhor: o meio é o caminho, nenhum extremo, o meio. Falar das situações antagônicas só nos remete a um zigue-zague ideológico... E o que é pior uma ideologia de vida paradigmática. Isso que nos faz realmente adoecer, a doença não é um principio, para mim, mas uma demonstração da onde se encontra o problema possivelmente.
O meio pode ser muitas coisas, muitas vezes facilmente demonstráveis, outras nem tanto. Muitas vezes aparentemente simples, mas quando vemos é mais complexo, mais digno de estudo. Como por exemplo, quando opomos o amor ao ódio, intrinsecamente colocamos o ódio como vilão da história, quando podemos opor amor ao poder (JUNG). O meio é justamente quando sabemos que não somos mais os vilões ou os mocinhos, bons e maus, fortes e fracos, doentes e sãos. Tantos outros opostos. Mas que compartilhamos de uma mesma fonte e não seguir para o meio é dar a sorte nessa enantiodromia neurótica. Esta é verdadeira doença, não não estar mudado, mas querer permanecer nessa maré de caos e alagamento do ser por águas escuras.
A sociedade hoje e sempre, muito contribuiu para esse balançar entre a cruz e a cruz e a espada, sempre nos ditando quais eram os opostos, quais eram os vários caminhos, sem nunca nos consultar - é óbvio -, mas já é e já foi a hora de abrir os olhos. Não vale mais a pena fingir participar de um sistema que é só um pouco corrupto, que ainda tem possibilidade de mudanças! Só nos sobrou a nós mesmos, e o espaço que preenchemos na sociedade. Se continuarmos a compactuar com essas mentiras nosso espírito, nossa luta nessa vida, toda ação e energia despendida, terá sido inútil.
A cada dia renascemos, sim! A cada dia temos o novo e as lembranças que nos apontam para o eterno, para a fonte. Qual outra essência das essência poderia se chamar, senão, Deus? Qual o preconceito que temos por essa palavra que remete a Essa Grande Máxima? Só porque alguns milhares, ou mais, de homens sujaram este nome encrustando nele um passado de guerra e imposição? Então, se prefere, chame de Essência, de Ser, de Uno... qualquer coisa. Se não crê em nenhum essência, não deveria nem ter começa a ler.
Quando buscamos por respostas achamos mesmo, durante um bom tempo, que as encontrariamos fora de nós. Quando buscamos por setas e rumos, pelos vestígios de Deus (Essência, Ser, Uno...), achamos que será uma jornada fora de nós. Quando, ao fazermos parte dele, e sendo que nós mesmos somos os pontos mais próximos e corretos dessa grandeza, achamos que o caminho está lá fora. Mas, assim, muitos então dizem: o caminho é para dentro, etc. Torna-se um novo oposto, percebe? Ou lá fora, ou aqui dentro. E o meio termo qual é?

Opostos, opostos e mais opostos. Lutamos com o mal que está em nós como se isso fosse o caminho da cura, negamos toda maldade e toda lasciva, não damos permissão a nós mesmos a nenhuma taxa de erro. Sempre uma forma dura e engessada, asfixiante! Somos duros e queremos ser ponderáveis com o mundo. Invés de ajuda, damos veneno, uma pedra pesada para segurar num rio, um revolver ou palavras revoltadas, maldosas.

Eu não quero interferir tanto mais nesse meio em que convivo, vejo que meu silêncio (meu Meio) basta para que muitas conclusões já cheguem prontas e melhores do que eu poderia julgar. Quando nossa baixa auto-estima é mudada por uma alta auto-estima, muda a posição do ego. Antes - quando em baixa - nosso ego era gigante, dentro de nós mesmos queríamos ser reconhecidos pelo mundo, vistos como novos profetas, depois - quando em alta - nosso ego já foi muito machucado, mas ele tornou-se forte - forte? Fraco com cara feia, para botar medo - e agora se sente a semelhança de Deus. Quando se interfere numa causalidade, não percebemos, mas estamos colocando mais uma equação nessa conta já complicada, e podemos complicar ainda mais. Se não formos um número real, mas mais uma incógnita, faremos com que o dono dessa equação dure mais tempo para resolvê-la, talvez não, mas talvez sim!
O que quero dizer é que o silêncio, o meio e a necessidade em calar-se é tão necessário quanto gritar e discursar longos conjuntos retóricos (como esse, por que não?).
Privar-se de muito sacrificio pode ser privar muitos de muita dor. Não sabemos, mas enquanto ficamos nessa dança entre pontas de lança, um centro calmo pode estar nos esperando. E desse modo, só espero que não seja mais um ideal ilusório tudo isso. eneaENANTIODROMI

sábado, 4 de setembro de 2010

Pelo meio.

Entre uma tosse e outra, minha cabeça dói mais. Já é a última pastilha para tosse que chupo e o xarope acabou. Tanta coisa entalada que já saiu da garganta... que só pergunto, o que mais? Tiro a camiseta, não importa, posso estar doente, mas está calor também. Coriza, lenços de papéis, mais coriza, mais lenços de papéis. Exclamo uma reclamação atrás da outra, mais que saco!
Hoje me olhei no espelho, vi um cara meio acabado, meio doente, meio cheio de muitas vontades, cansado de tanto discurso... De tanto idealismo. Pra quê? Afinal, todas as idéias se tornam como minhas manchas na pele: lembranças do passado, marcadas para o tempo, mas que não são mais as mesmas. Há muito já deixaram de serem cicatrizes vivas que doiam, queimaduras do sol que ardiam, como as idéias!
Agora são muitos rostos que só são máscaras representando os diversos lados de uma mesma moeda suja que diz ter valor com a política entre os homens... Só pergunto: qual é o lastro teleológico por trás disso tudo? Um belo baile de máscaras ao longe, cheio de jogos e mais jogos de véis que cobrem os nossos olhos e sujam nossas idéias.
Do que adianta, por exemplo, de dez idéias, nove serem boas e verdadeiras, mas a décima - a conclusão - ser a armadilha que nos envenena? Qual sua capacidade de, ao saber dessa grande possibilidade, você se manter satisfeito, fiel e focado em qualquer caminho de fora? Não vale essa luta sisífica que todos nós sabemos levar a todos nós para o fracasso em viver.

Vivamos nossas vidas, de nosso melhor modo, com muito respeito, sem comparações... Sem tantas inutilidades da alma. Qual atitude mais grandiosa seria, se sei que muito não fazem, exercer meu papel ao meu modo ou me adaptar a esse mundo de mentiras?

Por hora, encontrei um caminho levemente tortuoso que me leva ao meio.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Da busca...

Há muito já passou da meia-noite. Mais uma noite vadia? Daquelas que me empurram pelas horas da madrugada, vacilando entre os minutos e qualquer piada tosca, entre nudez e um banho morno. Já não sei mais o que é tempo e o que não é desperdício: ficar de pijama, num dia de semana, até a tarde, escorrer entre a cama e o sofá, entre assoar o nariz em lenços de papéis frágeis, ir no banheiro lavar o rosto, olhar no espelho e constatar que é melhor olhar mais um poucos os sonhos. Quaisquer que forem eles.
Estou doente, isto é fato. Meu corpo dói, minha cabeça dói, minha garganta dói, minha mente... também dói. Não consigo gerar pensamentos estapafúrdios negando a vida, apontado-a como sem sentido ou qualquer coisa do tipo, quando o errado sou eu. O errado são meus conceitos quebrados, montados num tiro de canhão de várias doutrinas ideológicas e racionais, apontado para o suposto teto de vidro da fé. Quando na verdade é uma armadilha que rompe uma teia invisível e cai no meio do nada... Se eu não souber tomar cuidado posso estar ainda mergulhando nessa profusão niilista, e que isso não passa de um sonho dentro dum sonho, uma caixa chinesa, repleta de mentiras, retalhos e desencaixes.
Minha dor no peito, meu estado doentio, meus pensamentos extremamente racionais e chatos, tudo isso são minhas provas de que isso com quase total certeza (ainda assim, quase) não é um sonho.
E disso tudo poderia tirar um pouco de absurdo e diversão, mas nada além de uma torcida nesse pano velho que é a realidade, molhada por todas as crenças. Nisso tudo: qual o valor de tantas viagens entre a razão e todo o resto que só sobra perante a Deusa Razão? Nada mais que re-estruturações de conceitos e mergulhos poéticos na lasciva por qualquer pele, carne e complexo mental, de qualquer uma que desfila na mente laboriosa e atrasada de uma vida que já passou! Nada mais que um sem-sentido sem sentido.
Prefiro meu jeito deslocado de andar entre a fé, os conceitos, alguns dogmas e uma investigação torta perante ao que podemos ser. Se é que é isso...