domingo, 5 de setembro de 2010

Pelo meio. II

ENANTIODROMIADeveras não estou doente, adoeci. A diferença pode não parecer grande, mas é. Estar doente me remete muito a um estado que pode inclusive ser crônico e pleno... de doença! Adoecer é ser levado para um estado abaixo do normal por alguma intervenção (externa ou interna), mas sem vestir-se como doente, sem deixar-se ser levado por essa maré.
Das poucas coisas que ainda acho ter algum valor em Nietzsche é algo que ele falou (que como sempre não foi algo totalmente dele): quando estava são, ele falava da loucura, quando adoecia, falava da sanidade. É interessante, mas incompleto. Já bebi dessa fonte. Talvez os antigos como muitos orientais e até Aristóteles falaram melhor: o meio é o caminho, nenhum extremo, o meio. Falar das situações antagônicas só nos remete a um zigue-zague ideológico... E o que é pior uma ideologia de vida paradigmática. Isso que nos faz realmente adoecer, a doença não é um principio, para mim, mas uma demonstração da onde se encontra o problema possivelmente.
O meio pode ser muitas coisas, muitas vezes facilmente demonstráveis, outras nem tanto. Muitas vezes aparentemente simples, mas quando vemos é mais complexo, mais digno de estudo. Como por exemplo, quando opomos o amor ao ódio, intrinsecamente colocamos o ódio como vilão da história, quando podemos opor amor ao poder (JUNG). O meio é justamente quando sabemos que não somos mais os vilões ou os mocinhos, bons e maus, fortes e fracos, doentes e sãos. Tantos outros opostos. Mas que compartilhamos de uma mesma fonte e não seguir para o meio é dar a sorte nessa enantiodromia neurótica. Esta é verdadeira doença, não não estar mudado, mas querer permanecer nessa maré de caos e alagamento do ser por águas escuras.
A sociedade hoje e sempre, muito contribuiu para esse balançar entre a cruz e a cruz e a espada, sempre nos ditando quais eram os opostos, quais eram os vários caminhos, sem nunca nos consultar - é óbvio -, mas já é e já foi a hora de abrir os olhos. Não vale mais a pena fingir participar de um sistema que é só um pouco corrupto, que ainda tem possibilidade de mudanças! Só nos sobrou a nós mesmos, e o espaço que preenchemos na sociedade. Se continuarmos a compactuar com essas mentiras nosso espírito, nossa luta nessa vida, toda ação e energia despendida, terá sido inútil.
A cada dia renascemos, sim! A cada dia temos o novo e as lembranças que nos apontam para o eterno, para a fonte. Qual outra essência das essência poderia se chamar, senão, Deus? Qual o preconceito que temos por essa palavra que remete a Essa Grande Máxima? Só porque alguns milhares, ou mais, de homens sujaram este nome encrustando nele um passado de guerra e imposição? Então, se prefere, chame de Essência, de Ser, de Uno... qualquer coisa. Se não crê em nenhum essência, não deveria nem ter começa a ler.
Quando buscamos por respostas achamos mesmo, durante um bom tempo, que as encontrariamos fora de nós. Quando buscamos por setas e rumos, pelos vestígios de Deus (Essência, Ser, Uno...), achamos que será uma jornada fora de nós. Quando, ao fazermos parte dele, e sendo que nós mesmos somos os pontos mais próximos e corretos dessa grandeza, achamos que o caminho está lá fora. Mas, assim, muitos então dizem: o caminho é para dentro, etc. Torna-se um novo oposto, percebe? Ou lá fora, ou aqui dentro. E o meio termo qual é?

Opostos, opostos e mais opostos. Lutamos com o mal que está em nós como se isso fosse o caminho da cura, negamos toda maldade e toda lasciva, não damos permissão a nós mesmos a nenhuma taxa de erro. Sempre uma forma dura e engessada, asfixiante! Somos duros e queremos ser ponderáveis com o mundo. Invés de ajuda, damos veneno, uma pedra pesada para segurar num rio, um revolver ou palavras revoltadas, maldosas.

Eu não quero interferir tanto mais nesse meio em que convivo, vejo que meu silêncio (meu Meio) basta para que muitas conclusões já cheguem prontas e melhores do que eu poderia julgar. Quando nossa baixa auto-estima é mudada por uma alta auto-estima, muda a posição do ego. Antes - quando em baixa - nosso ego era gigante, dentro de nós mesmos queríamos ser reconhecidos pelo mundo, vistos como novos profetas, depois - quando em alta - nosso ego já foi muito machucado, mas ele tornou-se forte - forte? Fraco com cara feia, para botar medo - e agora se sente a semelhança de Deus. Quando se interfere numa causalidade, não percebemos, mas estamos colocando mais uma equação nessa conta já complicada, e podemos complicar ainda mais. Se não formos um número real, mas mais uma incógnita, faremos com que o dono dessa equação dure mais tempo para resolvê-la, talvez não, mas talvez sim!
O que quero dizer é que o silêncio, o meio e a necessidade em calar-se é tão necessário quanto gritar e discursar longos conjuntos retóricos (como esse, por que não?).
Privar-se de muito sacrificio pode ser privar muitos de muita dor. Não sabemos, mas enquanto ficamos nessa dança entre pontas de lança, um centro calmo pode estar nos esperando. E desse modo, só espero que não seja mais um ideal ilusório tudo isso. eneaENANTIODROMI

Um comentário:

  1. Sempre se torna um ideal ilusório, você deixa de bater e participar

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